Há dez anos, uma forte tempestade trouxe à praia de Belinho, em Portugal, uma hora a norte do Porto, o tesouro de um naufrágio do século XVI. Após uma década de estudos sobre o próprio navio, os investigadores analisaram finalmente a valiosa carga da embarcação, cujas descobertas foram publicadas no Journal of Maritime Archaeology.
Luís Miguel Calheiros e João Sá, um escultor local, estavam à procura de objetos encontrados na Praia de Belinho quando se depararam com o que pensaram serem capacetes antigos. Alertaram as autoridades locais, que ficaram surpreendidas com a enorme quantidade de material arqueológico que apareceu. O Município de Esposende procurou a ajuda da Universidade Texas A&M, do Laboratório de Conservação do Município de Vila do Conde e do Museu D. Diogo de Sousa para ajudar a limpar e categorizar os destroços. A cidade contratou um técnico de conservação em 2019, e no ano seguinte, algumas das relíquias apareceram numa exposição comemorativa da circum-navegação de Magalhães.
Até esta semana, a carga do ainda não identificado Belinho 1 recebeu a mesma atenção que a sua artilharia e casco. Até agora, os académicos que estudam a construção do navio traçaram-no até à Ibéria por volta do século XVI, com base nas suas assinaturas arquitetónicas.
Mas estudos recentes questionam essa conclusão. Primeiramente, nenhum dos artefatos típicos que confirmariam uma identificação ibérica, como joias ou moedas, foi encontrado. Em vez disso, os investigadores registaram 490 fragmentos de estanho e 254 recipientes de estanho — maioritariamente pratos, mas também três escudelas, algumas com pegas florais, e duas colheres. Embora o estanho apareça frequentemente entre os destroços da Idade Moderna Inicial, é tipicamente propriedade dos marinheiros, já que o estanho é suficientemente resistente para viagens marítimas. Uma análise mais detalhada dos pratos revelou marcas de fabricantes alinhadas com oficinas europeias durante o século XVI.
A equipa também estudou 125 fragmentos de cobre correspondentes a 34 pratos — anteriormente pratos de esmola de alta qualidade, com base nas suas decorações detalhadas. Nuremberga era o principal produtor dessas relíquias. Aparecem cinco designs bíblicos, como a tentação de Adão e Eva, e São Jorge a lutar contra um dragão para salvar uma princesa.
Os objetos restantes incluíram sete itens de ferro que estavam tão degradados que os investigadores não conseguiram identificá-los sem raio-X, que mostrou que compreendiam duas cabeças de machado, pelo menos duas espadas e um prego. Trinta e duas balas de canhão de pedras variadas, origens e tamanhos também deram à costa, juntamente com dois fragmentos de cerâmica vidrada.